Até o Tucupi

Na edição de 2022 do festival, o artista Odacy Oliveira levou a obra ‘Suspenso’ para o Igarapé do Passarinho, no Monte das Oliveiras.

A performance se trata de uma intervenção urbana, com o corpo pintado e o cenário da Ponte e do igarapé Odacy utilizou sua força e expressou o que é estar em suspenso.

O nome “Até o Tucupi” carrega uma expressão muito comum em Manaus: quando algo está cheio, abarrotado, dizemos que está “Até o Tucupi”. Inspirado por essa expressão, o festival é nossa forma mais genuína de afirmar que estamos “Até o Tucupi” de artes integradas, “Até o Tucupi” de políticas, e “Até o Tucupi” de gente! O festival reflete esse transbordamento de cultura, resistência e mobilização, reunindo artistas, coletivos e movimentos sociais que, assim como nós, estão cheios de vontade de transformar a realidade, ocupar os espaços e fomentar debates essenciais para a Amazônia e o mundo.

Desde 2007, o Festival Até o Tucupi tem provocado e movimentado a cidade de Manaus, com o objetivo de ocupar seus espaços públicos com debates, encontros, arte e cultura, trazidos por artistas, movimentos sociais, grupos e coletivos urbanos de vanguarda. Mais do que um evento cultural, o festival se afirma como uma plataforma política, abordando questões urgentes da sociedade.

Em 2024, o festival se alinha à pauta climática, abordando de forma crítica o momento sufocante que vivemos. Em uma região onde é difícil respirar devido à fumaça das queimadas, o trauma da falta de oxigênio durante a pandemia da Covid-19 ainda é recente. Soma-se a isso o agravamento dos períodos de seca, especialmente em um estado como o Amazonas, onde a maioria dos municípios depende dos rios como principal meio de transporte. Dentro desse contexto, o Até o Tucupi promoverá o ‘Primeiro Encontro Amazonense Sobre a Crise Climática’, ampliando o diálogo sobre os desafios enfrentados pela região.

Como parte central deste encontro, o festival abrirá espaço para debater os desafios e as oportunidades relacionadas à COP 30, que será sediada na cidade de Belém, no Pará. O festival buscará discutir o que pode ser feito, em meio às muitas perspectivas políticas, para garantir que esse evento global não seja apenas mais uma conferência milionária sem impacto real nas vidas das pessoas. A ideia é colocar em pauta as transformações sociais necessárias e urgentes, garantindo que a COP 30 possa ser uma plataforma que favoreça as mudanças que podem beneficiar a Amazônia e seus povos, promovendo uma ação política verdadeira e eficaz.

Ao longo de 16 anos, o Festival tem ressignificado o uso de espaços públicos e históricos, promovendo o protagonismo das periferias em locais tradicionalmente associados à elite colonial. Ao mesmo tempo, leva intervenções culturais e artísticas diretamente aos bairros periféricos de Manaus, criando uma troca viva e pulsante entre, debates políticos, a arte e a cidade.

No coração do caldeirão amazônico, o Até o Tucupi questiona os desafios de pensar e produzir arte e cultura a partir das vivências dos povos urbanos de Manaus. O festival se posiciona como uma mobilização política, transcendendo o entretenimento e convocando um olhar crítico sobre as realidades sociais e culturais da região.

Um dos pilares centrais do festival é ampliar o reconhecimento da diversidade amazônica, indo além dos estereótipos e do folclore que reduzem a riqueza da floresta a fetiche. Manaus, uma das cidades menos arborizadas do Brasil, exibe suas marcas coloniais enquanto tenta ocultar sua essência: negra, indígena e resiliente.